É incrível como mais uma vez vejo os comentários do blog e o pessoal "se batendo" com coisas básicas, apresentando um recency bias que me faz ter certeza que o ser humano continuará cometendo os mesmos erros até o armageddon no que se refere a finanças.
A bola da vez agora é a rentabilidade dos ativos, ou como ela é de pouca ou nenhuma importância quando comparada aos aportes a um portfolio.
Vamos voltar ao básico e deixar claro o peso de cada variável no caminho à independência financeira, com o auxílio da equação básica de juros compostos:
J = Juros
C = Capital
i = taxa
n = períodos
Ao final de um portfólio, nada mais teremos do que C+J. Portanto, o nosso objetivo como investidores é aumentar ao máximo possível tanto o capital quanto os juros.
Vejam, no entanto, que o juro é capitalizado EXPONENCIALMENTE pelo tempo (n). Isso significa, a título exemplificativo, se aumentarmos 4x a variável n podemos diminuir 9,5x (-95%!!) o capital (C) com um i de 0,1. Portanto, pela própria matemática da coisa podemos extrair a lição elementar: Comecem a investir cedo, PORRA. Isso é fundamental. Um capital de R$200 reais investido por 40 anos a 10%a.a. equivale a um de R$3.500,00 investido por 10 anos. Portanto, por menor que seja a quantia inicial ela faz sim muita diferença no longo prazo.
Na verdade, o tempo é tão importante para a montagem de um portfolio que em um horizonte de investimento típico de um investidor (40 anos), os 10 primeiros anos valem mais do que os outros 30. Façam os cálculos vocês mesmos e comprovem.
Além do tempo, temos o tema do artigo em si: Aportes e rentabilidade. Os dois possuem importância inversamente proporcional ao tempo de um portfolio. Isso quer dizer que no início da fase de acumulação os aportes são muito mais importantes, já na fase final a rentabilidade é o que importa.
Em um artigo anterior eu já postei uma simulação hipotética de dois investidores, um aportando 10% do salário a uma taxa de 5% e outro aportando 5% a uma taxa de 10%. Segue ela novamente:
Vejam como nos primeiros 25 anos quem aporta mais está em vantagem. Já ao final do prazo o portfolio com maior rentabilidade é quase 60% maior.
A questão é que a grande maioria dos leitores do blog possuem portfólios muito novos e não puderam apreciar na prática o poder dos juros compostos, ainda mais com a bolsa brasileira não dando qualquer tipo de retorno ao investidor nos últimos 4 anos.
O meu objetivo é viver de renda com no mínimo 3 milhões de reais. Quando meu portfolio tiver esse tamanho qualquer 1% a mais ao ano irá representar R$30.000,00, um valor de praticamente de 1 ano de aportes. Uma queda de 50% no início de um portfolio pode significar um mês de trabalho a mais. Uma queda semelhante no final do portfolio é irreparável e catastrófica. O inverso também é verdadeiro: uma alta de 50% pode te salvar 15 dias de trabalho no início de um portfolio ou 15 anos ao final dele.
Isso não significa, no entanto, que eu terei que devotar horas e mais horas do meu dia dando atenção ao meu portfolio. Se uma coisa que eu aprendi de forma muito clara é que definitivamente NÃO há uma relação entre estudo/conhecimento x rentabilidade, ou em termos mais técnicos: o alpha não existe. Qualquer investidor que invista 30% em PIBB, 30% em SMAL11 e 40% em renda fixa se sairá melhor que 90% dos investidores em 5 anos e até 99% dos investidores em 15 anos ou mais. Eu não estou tirando esses números da minha bunda: basta olhar o percentual dos fundos mútuos ativos americanos que batem o s&p500 em 15 anos. Mantenha-se passivo, rebalanceie 1 vez ao ano e não faça market timing. FIM. Esse portfolio que qualquer idiota pode seguir se sairá de forma maravilhosa a longo prazo, oferecendo uma relação risco/retorno bem interessante, e sem necessidade de acompanhar mercado, ler balanços e perder aquilo que você tem de mais precioso: seu tempo.
Investimento não é algo complicado. Já o tal do investidor...
"Se eu aumentar o load SmL do meu portfolio em 0.1 aumentarei o sharpe ratio em 0.03 com um VaR idêntico!"
Boa semana a todos!