Hoje me bateu uma vontade irrefreável de ver uma boa pornografia financeira, com cálculos, tabelas e comparações interessantes. Acho fundamental cada investidor ter noção da rentabilidade anual e/ou acumulada dos principais instrumentos de investimentos que possuímos hoje, então esse será um artigo mais de referência do que opinativo*Lies!*. Sem mais delongas vamos fapear nos números:
Antes de tudo, segue a tabela master:
Os valores de 2016 são parciais até o dia 15/09/2016, daí a cor diferente. Quanto será o rendimento anual médio de cada um desses valores até 2015?
Veja que o IFIX e o IBRX-50 não são diretamente comparáveis aos outros por tratarem períodos diferentes. Ainda assim, vemos alguns dados interessantes:
O IGPM foi cerca de 1,7% a.a. maior que o IPCA nesses 20 anos.
O CDI "cru" teve um rendimento quase 4% a.a. maior que o Ibovespa.
O CDI rendeu 8-10% acima da inflação durante os últimos 20 anos.
O CDI rendeu 8-10% acima da inflação durante os últimos 20 anos.
O Ibov parece render mais do que o IBRX-50. Será isso verdade quando compararmos períodos iguais?
Aqui vemos que o Ibov rendeu significativamente menos que o Ibrx-50, quase 3,4% a.a, talvez isso seja explicado por um menor peso em PETR e VALE, que foram amplamente negociadas durante o período (o Ibov é ponderado por volume negociado) e ambas as ações tiveram quedas expressivas na última década.
E se nós pegarmos apenas os últimos 20 anos, incluindo o ano atual?
Ainda assim, o CDI bate o Ibov com folga. No pior dos casos, o Ibov conseguiu uma rentabilidade 5% acima da inflação durante o período. No melhor dos casos, o CDI consegue mais de 9% acima da inflação.
Como será a rentabilidade desses ativos nos últimos 15 anos? Vejamos:
Vejam a surra que o Ibov toma do IBRX-50. Se compararmos ao CDI, O IBRX-50 perde por apenas 1% a.a., mas ainda assim rende os mesmos ~5% acima da inflação.
Vejamos agora os últimos 10 anos:
Aqui vemos a "Década Perdida" das ações, com tanto o Ibov quanto o Ibrx-50 possuindo rentabilidades aproximadamente iguais a da inflação, em nada ajudando o investidor na prática com os sonhados juros compostos. O CDI, apesar de ter uma rentabilidade real de cerca de 4.5-5% acima da inflação, é um valor bastante inferior ao do passado. Isso se deve ao período de queda da Selic em que a mesma chegou aos 7,25%, conforme podemos ver de forma mais clara na tabela dos últimos 5 anos:
Os últimos 5 anos foram um exemplo claro de manifestação do risco em ações, com rendimentos muito aquém da inflação ou até mesmo nominalmente negativos no caso do Ibovespa. O CDI rende cerca de 3.5% acima da inflação. O IFIX, que aparentava desastroso na primeira tabela, conta outra história aqui, conseguindo uma rentabilidade acima da inflação e mostrando ser um instrumento de diversificação importante em renda variável. Ainda assim, perde para o simples CDI e não conseguiu remurar o investidor em termos reais sequer 0.3% a.m.
Que lições podemos tirar desses dados? Pra ser sincero, não muitas. Já sabemos muito bem que rentabilidade passada não tem muito a ver com rentabilidade futura. Já sabíamos que o CDI tinha rendido acima do Ibov nos últimos 20 anos, mas o cenário 1996-2003 da renda fixa com rendimentos acima de 20% a.a. parece distante ao investidor atual. O mesmo pode ser dito com relação ao valuation da Bolsa dessa época.
O rendimento do IFIX pra mim foi uma revelação negativa, até porque já estão contabilizados os 25% de alta desse ano. Garanto que nenhum investidor de FII conta com retiradas de 0.3% a.m. e mostra o cenário adverso que os imóveis comerciais tiveram nesses últimos 4-5 anos.
Note que todos esses dados não incluem custos sofridos naturalmente pelos investidores (IR inclusive sobre JSCP, corretagens, tarifa CBLC, etc.) o que indica que o investidor médio possui um rendimento aquém do que foi colocado aqui. Hoje eu possuo sérias dúvidas daquele velho argumento tupiniquim "ah mas o Ibov só tem lixo, bater esse índice é obrigação". O que vemos na blogosfera é o pessoal suando pra bater o Ibov e mais especialmente o Ibrx-50. O caso mais emblemático disso seria a própria Petrobras, empresa que ninguém em sã consciência diria que é boa, estatal, super endividada e mal gerida que tem como modelo de negócio uma commodity depreciada e no entanto subiu 100% esse ano. A antítese da PETR seria a Ambev, empresa privada, multinacional, super bem gerida e que lagou em 25% o Ibov esse ano. Da mesma forma, é irrelevante saber quais são as empresas boas hoje, precisamos saber quais serão as empresas boas daqui a 15-20 anos. Quem apostou em HGTX quando estava em recuperação judicial? Quem imaginaria que a Usiminas, empresa super sólida com lucros crescentes no início dos anos 2000 teria tal história de horror?
Eu até concordo com o investidor individual que vê uma empresa como GOLL4 e não consegue mover um centímetro pra aplicar numa empresa com patrimônio líquido negativo, indicadores operacionais tenebrosos e dívida na lua. No entanto, essa bosta voadora rendeu 141% esse ano. A Magazine Luiza subiu mais de 200%. Seria mera volatilidade? Afinal de contas, quantos realmente conseguem bater o mercado, gerar alpha?
O grande vencedor continua sendo a renda fixa. Dada a realidade mundial que temos hoje e a rentabilidade dos últimos 20 anos que tivemos, ter acesso a investimentos que rendem IPCA/IGPM + 6-7%, ou líquido até 105% do CDI, com proteção do FGC (que é um risco "quase-soberano" a meu ver), torna o Brasil um verdadeiro oásis frente a um mundo sedento por yield.
Próximo post será sobre estratégias tributárias para investimentos nos EUA!