quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Atualização Mensal: Agosto 2011

Terceiro mês seguido que o portfolio fecha no negativo, e esse mês a coisa foi feia: leve underperformance no porfolio LV (-0,06%) e massiva underperformance no portfolio SV (-5,1%), causada principalmente pela querida Marfrig (~-50%) e Santanense (~-20%), as duas maiores posições que tinha no portfolio.

De quebra, FEXC11B caiu e meu portfolio de imóveis também ficou no vermelho.

No geral, estou ~R$11.000,00 mais pobre, isso porque fiz um aporte completamente extraordinário esse mês de quase R$10.000,00. Mês que vem devo investir muito pouco.

Tabelinha para os interessados:

Vejam como a correlação razoável entre os ativos está dando uma aliviada boa na volatilidade. Alguém mais percebeu como a porcentagem de renda passiva está ficando sempre em 0,33% a.m. (4%a.a.) ou mais? Hum... será que vou acabar vivendo só de dividendos?

Para os mais curiosos ainda, um gráfico recém saído do forno com todas as minhas posições:



Desinvestimento do mês: 260 PIBB11 a R$74,79 cada. Mês que vem é o fim da era PIBB no meu portfolio.

Investimentos do mês:

  • 600 SANB11 a R$13,64 cada
  • 100 ELPL4 a R$29,77 cada
  • 200 TLPP3 a R$40,16 cada
  • 1200 TERI3 a R$2,41 cada
  • 500 MAGG3 a R$5,76 cada
  • 400 MRFG3 a R$7,38 cada
  • 300 BICB4 a R$8,51 cada

Mês que vem sai JHSF3 (P/VPA muito alto) e entra GOLL4!

Pra quem está curioso com essa diferença de performance do meu portfolio, especialmente o SV, aqui vai uma tabela bem interessante:

Que tal começar a investir em Small-caps em 1984 e até hoje estar com underperformance com relação às Large-caps? Ou estar perdendo quase 10% esse ano só por investir em valor?

Ignorância é felicidade...

Rumo aos R$500k!

sábado, 27 de agosto de 2011

Aporte x Rentabilidade: O que é mais importante?

É incrível como mais uma vez vejo os comentários do blog e o pessoal "se batendo" com coisas básicas, apresentando um recency bias que me faz ter certeza que o ser humano continuará cometendo os mesmos erros até o armageddon no que se refere a finanças.

A bola da vez agora é a rentabilidade dos ativos, ou como ela é de pouca ou nenhuma importância quando comparada aos aportes a um portfolio.

Vamos voltar ao básico e deixar claro o peso de cada variável no caminho à independência financeira, com o auxílio da equação básica de juros compostos:


J = Juros
C = Capital
i = taxa
n = períodos

Ao final de um portfólio, nada mais teremos do que C+J. Portanto, o nosso objetivo como investidores é aumentar ao máximo possível tanto o capital quanto os juros.

Vejam, no entanto, que o juro é capitalizado EXPONENCIALMENTE pelo tempo (n). Isso significa, a título exemplificativo, se aumentarmos 4x a variável n podemos diminuir 9,5x (-95%!!) o capital (C) com um i de 0,1. Portanto, pela própria matemática da coisa podemos extrair a lição elementar: Comecem a investir cedo, PORRA. Isso é fundamental. Um capital de R$200 reais investido por 40 anos a 10%a.a. equivale a um de R$3.500,00 investido por 10 anos. Portanto, por menor que seja a quantia inicial ela faz sim muita diferença no longo prazo.

Na verdade, o tempo é tão importante para a montagem de um portfolio que em um horizonte de investimento típico de um investidor (40 anos), os 10 primeiros anos valem mais do que os outros 30. Façam os cálculos vocês mesmos e comprovem.

Além do tempo, temos o tema do artigo em si: Aportes e rentabilidade. Os dois possuem importância inversamente proporcional ao tempo de um portfolio. Isso quer dizer que no início da fase de acumulação os aportes são muito mais importantes, já na fase final a rentabilidade é o que importa.

Em um artigo anterior eu já postei uma simulação hipotética de dois investidores, um aportando 10% do salário a uma taxa de 5% e outro aportando 5% a uma taxa de 10%. Segue ela novamente:

Vejam como nos primeiros 25 anos quem aporta mais está em vantagem. Já ao final do prazo o portfolio com maior rentabilidade é quase 60% maior.

A questão é que a grande maioria dos leitores do blog possuem portfólios muito novos e não puderam apreciar na prática o poder dos juros compostos, ainda mais com a bolsa brasileira não dando qualquer tipo de retorno ao investidor nos últimos 4 anos.

O meu objetivo é viver de renda com no mínimo 3 milhões de reais. Quando meu portfolio tiver esse tamanho qualquer 1% a mais ao ano irá representar R$30.000,00, um valor de praticamente de 1 ano de aportes. Uma queda de 50% no início de um portfolio pode significar um mês de trabalho a mais. Uma queda semelhante no final do portfolio é irreparável e catastrófica. O inverso também é verdadeiro: uma alta de 50% pode te salvar 15 dias de trabalho no início de um portfolio ou 15 anos ao final dele.

Isso não significa, no entanto, que eu terei que devotar horas e mais horas do meu dia dando atenção ao meu portfolio. Se uma coisa que eu aprendi de forma muito clara é que definitivamente NÃO há uma relação entre estudo/conhecimento x rentabilidade, ou em termos mais técnicos: o alpha não existe. Qualquer investidor que invista 30% em PIBB, 30% em SMAL11 e 40% em renda fixa se sairá melhor que 90% dos investidores em 5 anos e até 99% dos investidores em 15 anos ou mais. Eu não estou tirando esses números da minha bunda: basta olhar o percentual dos fundos mútuos ativos americanos que batem o s&p500 em 15 anos. Mantenha-se passivo, rebalanceie 1 vez ao ano e não faça market timing. FIM. Esse portfolio que qualquer idiota pode seguir se sairá de forma maravilhosa a longo prazo, oferecendo uma relação risco/retorno bem interessante, e sem necessidade de acompanhar mercado, ler balanços e perder aquilo que você tem de mais precioso: seu tempo.

Investimento não é algo complicado. Já o tal do investidor...

"Se eu aumentar o load SmL do meu portfolio em 0.1 aumentarei o sharpe ratio em 0.03 com um VaR idêntico!"

Boa semana a todos!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Voltando ao básico: Market Timing

Esse mês tem sido no mínimo interessante para quem investe em ações. Temporada de resultados, volatilidade em alta e muito, muito sangue. Só para vocês terem uma idéia, meu portfolio Small/Micro Cap já acumula 13% de perdas só esse mês. Valeu Marfrig!

Para minha surpresa (e de muitos) verifiquei a atualização mensal do grande colega Investimentos e Finanças, em que o mesmo simplesmente liquidou toda a posição que tinha em ações e investiu em imóveis e renda fixa, em antecipação a uma baixa do Ibov que felizmente para ele - e infelizmente para nós - de fato ocorreu.

Que lições podemos tirar desse fato? Seriam os buy-and-holders otários por suportar integralmente o fat tail risk? Seria o Invest. e Fin. um excelente investidor por ter desviado dessa queda?

Obviamente, estamos falando aqui de Market Timing, ou em outras palavras "EU CONSIGO PREVER O FUTURO".

Alguns estudos já foram feitos sobre Market Timing, e os resultados são no mínimo surpreendentes. De acordo com o Investment Company Institute o fluxo de investimentos geralmente vai CONTRA os retornos de um ativo. Ou seja, os investidores tendem a vender na baixa e comprar na alta.

O estudo anual feito pela DALBAR também corrobora a idéia de que os investidores comuns são péssimos market timers, pois o retorno dos mesmos é sempre significativamente inferior ao do mercado (estamos falando de 6-8% ao ano, TODO ano).

O motivo dessa underperformance é claro: o investidor comum está a todo momento mexendo no seu portfolio (turnover) e tentando advinhar que caminho o mercado caminhará (market timing). Um alto turnover gera custos e portanto reduz o retorno de um portfolio. Market Timing implica em períodos fora do mercado. Como ações possuem uma expectativa de retorno positiva, quando menos tempo no mercado menor será o retorno do portfolio, em média. A argumentação é a mesma de DCA x Lump Sum Investing.

Interessante também que não são apenas os pequenos investidores que não conseguem se antecipar ao mercado: bancos como Goldman Sachs emitem bonds pouco antes de uma queda significativa de yields de renda fixa.

Para resumir, a Vanguard criou um texto muito bom sobre o assunto, que pode ser encontrado aqui e que expõe de forma magistral a ineficiência do Market Timing.

O fato de investidores experientes como o Inv. e Fin. cometerem esse tipo de erro elementar mostra quão suscetível o investidor comum está a bias emocionais quando valores mais altos estão envolvidos. É muito, muito difícil não ser avesso à volatilidade quando 10-20 anos de seu trabalho estão em jogo.

Frise-se aqui que não podemos confundir estratégia com resultado. A estratégia do Invest. e Fin. foi péssima, mas o resultado foi ótimo. As chances estavam contra ele e o mesmo teve sorte, e apenas isso. Fazendo uma analogia ao extremo, não é porque alguém ganha na mega-sena que "investir" em loteria vale a pena.

Também fico impressionado com as constantes mudanças no portfolio dos amigos de batalha nos blogs:

  • Invest. e Fin. usava portfolio permanente, depois trocou ETFs por ações individuais, depois eliminou ouro do portfolio, depois voltou a usar ETFs, depois aumentou a alocação em ações e agora extinguiu a alocação em ações. Isso tudo em menos de 2 anos!
  • O Investidor Defensivo fazia lancamento de opções, depois passou a comprar PIBB, depois passou a usar SMAL e agora só possui SMAL na carteira de ações.
  • O Vida Boa Investimentos vendeu todo o portfolio para dar entrada em um imóvel.
  • O I40 compra ações, vende ações, compra PIBB, compra câmbio...
Muito de vocês devem estar pensando: "E você, VR, que tinha PIBB, vendeu PIBB, comprou ações e comprou FIIs?"

Quanto à mudança de PIBB para ações individuais de fato foi uma mudança radical e, a meu ver, bem fundamentada, refletida durante meses a fio e discutida neste blog ad nauseam. Essa mudança não mudou em nada a passividade do investimento em ações, além de ter me comprometido pelas décadas seguintes com o investimento em valor nos moldes dos estudos de Fama&French. Já a mudança na alocação de ativos estava prevista na minha DPI (Declaração de Política de Investimentos), que ainda não publiquei aqui pois não está completa mas que prevê, dentre outras coisas, portfolios com até 40% em renda fixa com a evolução do meu patrimônio.

O ato de investir deve ser mecânico. Investir de forma diversificada implica em possuir ao menos um ativo que você "não gosta". Agir de forma diferente é se sujeitar às intempéries emocionais que possuem a capacidade ímpar de te fazer perder dinheiro.