terça-feira, 28 de abril de 2009

A TSR (taxa segura de retirada) - Parte I

Digamos que você acabou de adquirir sua independência financeira e vai poder finalmente aproveitar o patrimônio conquistado com muito suor (e inteligência!) ao longo dos anos. Aí vem a dúvida: Quanto retirar por mês? 1% do patrimônio? A rentabilidade líquida? O que você gastar independente do valor? Aí é que entra o complexo tema da TSR...

Antes de tudo devo ressaltar que o que estou colocando aí é material que só encontrei na língua inglesa. Livros como o de Cerbasi, Pai Rico Pai Pobre dentre inúmeros outros de finanças pessoais passam batidos ou dão soluções simplesmente ERRADAS para tal problema. Logo é muito provável que o que vocês lerão aqui seja algo novo e altamente instrutivo para o futuro financeiro de vocês.

O problema todo da TSR é o seguinte: Como fazer retiradas constantes com base em um patrimônio inconstante? Como fazer uma retirada que seja SEGURA e que não deixe você comendo miojo todo santo dia na sua velhice?

Vamos a solução mais comum que as pessoas pensam:

-"Ué Viver de Renda, a solução é muito simples: é só eu retirar apenas a rentabilidade do patrimônio no mês e pronto! Meu patrimônio nunca vai diminuir e mesmo se eu viver 500 anos vou ter sempre dinheiro pra torrar com as menininhas de 20!"

O problema inicial aqui é a inflação... lembra quando um Corsa custava R$7.000,00? Provavelmente não, mas isso foi no início do plano real, 15 anos atrás. Imagina quanto custará um carro popular daqui a 30 anos? 1 milhão vai ser beeeeem menos do que o que vale hoje.

-"E se eu retirar só o a rentabilidade após abatido o INPC (ou IGP-M) do mês? O meu portfolio vai aumentar conforme a inflação e, ainda que menos, ainda vou ter $$ pra pagar a prestação do esportivo que acabei de comprar!!!"

Essa solução é menos pior do que a anterior, mas ainda assim insuficiente. Imagine um mês que a bolsa tenha rentabilidade negativa. Agora imagine 3 anos seguidos a bovespa com rentabilidade negativa. Agora imagine que durante esse período a inflação foi galopante. Agora imagine você se descabelando e pedindo dinheiro na rua pois este será o seu futuro caso aconteça algo parecido (se não perceberam ainda, aconteceu exatamente isso com o Ibov na época 2000-2002). Essa estratégia é insustentável justamente pela alta possibilidade de você passar por períodos de baixa prolongadas que, aliados às constantes retiradas, levam você a consumir completamente o portfolio.

-"Mas Viver De Renda, quem disse que eu quero aplicar na bolsa quando me aposentar?Vou deixar tudo num fundo de renda fixa e só retirar o que superar a inflação! Não tenho risco de baixa já que estarei aplicando em títulos públicos e não em empresas (ações)!"

Essa é uma saída, mas surpreendentemente mais perigosa que a anterior. Você sabia que quem aplica 100% na bolsa a longo prazo tem menos chance do portfolio ir a 0 do que quem aplica 100% em renda fixa? Pois é. Pra quem duvida, aqui vai um gráfico comparando a chance de um portfolio sobreviver 30 anos, com variação do portfolio entre renda fixa e ações (esquerda 100% renda fixa, direita 100% ações):




O problema é que, caso se tratem de títulos pós-fixados, há o risco do governo baixar estupidamente a taxa, como o governo americano está fazendo nesse momento e como o governo japonês já faz há muitos anos. No caso de títulos pré-fixados, há o risco da inflação ser muito acima da rentabilidade do título. E no caso de títulos pré-fixados indexados pela inflação? Essa pode ser sim uma solução viável, desde que:
  • O título esteje com uma taxa alta
  • O título mature daqui há muuuuuuito tempo
Ainda assim, mesmo com títulos de maturidade bem longa existe o chamado "risco de maturidade", que é você se aposentar com títulos pagando 7% ao ano e no vencimento deles, no ato de renovação, eles passem a pagar 1%. É o que está acontecendo nos EUA hoje.

E aí? O que fazer? Desistir? Arriscar e "ver no que dá"? Juntar 10 milhões e retirar 10 reais por mês?

A solução está na chamada TSR, mas isso é assunto pra Parte II...




8 comentários:

  1. Mais uma vez Parabens! Existem muitos livros, sites, foruns de como elaborar um plano para atingir a IF, porem nao encontrei nada sobre o que fazer, apos atingir a IF.

    Continue compartilhando conosco seu plano.

    Abraço

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  2. Excelente post!

    Realmente aqui no Brasil o pessoal só comenta sobre o que fazer para chegar lá, mas tão importante quanto chegar no "topo" é se manter nele.

    A literatura sobre finanças pessoais e investimentos ainda é um pouco "atrasada" aqui no Brasil. Portanto, saber inglês é fundamental.

    Abraços!

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  3. Não é nem atrasada... é inexistente (ao menos nesse ponto) huehuehue...

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  4. Olá! Achava que conhecia algo sobre investimento mas percebi que tenho muito a aprender. Vc poderia divulgar a fonte do gráfico publicado para entender melhor?

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  5. Olá, achei seu blog por acaso em uma pesquisa que fazia para uma empresa. Eu, como vc, sou jovem. Estudei e morei nos EUA e sou formado em finanças. Nunca vi ou conheci alguém como vc. Meus parabéns. Vc dá um banho em qualquer FA, PM, MD (títulos de investment bankers). Tenho uma pergunta pra vc. Ao invés de alocar uma parte ao ETF, pelo fato de ainda ser jovem, por que não colocar, ou melhor, especular no mercado de derivativos? Caso nao goste de opções, por que não um covered call?
    E mais: acredito que vc esqueceu de mencionar o risco político, ou a chance de algo completamente inesperado acontecer como em 1994.

    Anyway, muita sorte cara. Espero que tu chegue lá.
    Abs

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  6. VR achei seu texto SIMPLESMENTE MARAVILHOSO. Pois abordo todos os assuntos que estou procurando. Recebo seus newslatter e foi uma das melhores coisas que já fiz.

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  7. VR, não entendi o gráfico poderia explicar melhor?

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  8. VR, não entendi o gráfico poderia explicar melhor? (2)

    Poderia explicar melhor?

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