segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Risco da Sequência de Retorno

Taí mais um assunto praticamente inexistente aqui na terra brasilis, mas muitíssimo importante principalmente para quem adquiriu recentemente a independência financeira: o risco da sequência de retorno (sequence of return risk).

O RSR é uma decorrência da volatilidade dos ativos, principalmente o shortfall risk. No paraíso dos investimentos, a classe de ativo de maior retorno teria volatilidade igual a zero. Ou seja, o retorno seria constante, invariável e alto. Como sabemos, a realidade é bem diferente. Em um mês o ativo pode dar um retorno bem alto, em outro retorno negativo, etc.

O RSR é justamente o do indivíduo, recém-independente e portanto começando a fazer retiradas periódicas do portfolio, ver seu portfolio duplamente atingido por retornos negativos substanciais e pelos resgates efetuados.

O efeito pode ser devastador. Vamos imaginar um investidor que tenha $500.000,00, retire $25.000,00 (5%) ao ano corrigido por uma inflação de 3,5% ao ano em 4 hipóteses:

- Retornos altos nos primeiros anos e baixos nos últimos anos. (média de 8%)
- Retornos baixos nos primeiros anos e baixos nos últimos anos. (média de 8%)
- Retorno 0. (média de 0%)
- Retorno constante de 8%. (média de 8%)

(clique para ampliar)

A diferença é absurda, chegando a 170% do portfolio inicial entre retornos altos iniciais e retornos baixos iniciais.

Esse risco é um dos principais motivos pelo qual não se recomenda uma alocação de 100% RV em um portfolio com retiradas, mesmo que o portfolio tenha um horizonte infinito (previdência, p.ex.).

A utilização da estratégia de rebalanceamento pode em alguns casos ser prejudicial ao portfolio, pelo efeito feeding the bear, que é retirar ativos seguros e com retorno positivo para ativos recém-depreciados, mas que podem depreciar ainda mais, tornando as perdas nesse caso triplas! Veja como um portfolio em que incidem retiradas tem uma dinâmica completamente diferente dos portfolios "comuns". O foco não é em crescimento, mas na sobrevivência do portfolio e mecanismos que existem para controlar o risco (como o rebalanceamento) podem na verdade aumentar o risco de perda total do principal.

Diversos estudos foram feitos nos EUA com o objetivo de se verificar estratégias de retirada (withdrawal strategies) que protejam o portfolio contra o RSR. As conclusões que eles chegaram fica para o próximo post (pra variar kkkkk)...

9 comentários:

  1. Muito bom o post e o assunto. To curioso para ver a sequencia. Só uma observação: Achei a taxa de retirada de 10% altissima. Acho que uma taxa percentual fixa bem menor, em vez de um valor fixo seria mais interessante. E deixar 8 anos na Renda fixa, para não sacar da bolsa no bear market provavelmente resolveria o problema.

    Abs

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  2. Também achei a taxa de 10% alta,mas pelo que entendi foi para ilustrar,para o exemplo ficar mais fácil de ser entendido.

    Ainda falta,mas o que estou balando seria +- assim.Dividir o dinheiro em duas partes,uma para uso outra para gerar renda.

    Ia definir os critérios e ia gastando.

    Exemplo bem básico(devo desenvolver):

    Primeiro eu ia calcular uma taxa de retorno esperado líquida acima da inflação.De maneira conservadora sobre o patrimônio que ia gerar renda.

    Pelo que eu observei esses investimentos gerando lucros são mais estáveis,pois mesmo que a bolsa suba muito ou caia os dividendos não são tão afetados.Ou seja eles são menos voláteis que as cotações

    Mesmo que os juros variam os meus cupons(vou dar preferência para títulos de LP,taxa+inflação) não vão mudar

    Mesmo que os preços dos imóveis variam os alugueis tendem a ser mais contantes que os preços.

    Ou seja minhas retiradas não iam afetar o principal,a menos de casos muito graves que isso fosse necessário.Ia considerar como lucro só o lucro financeiro,não o lucro contábil.Ou seja só o dinheiro que o investimento realmente gera e não a mudança de cotação.O importante era tentar conseguir ativos que gerem uma renda +- constante independente de cotações (valorização da bolsa,dólar e etc...),de juros e da inflação(é difícil,mas sempre da para tentar).

    Ia calcular minha renda mínima.Uma renda que eu considere aceitável viver.Depois ia calcular a com que eu pretendo viver.

    Digamos que seja
    Renda Básica 1k/mês
    Renda pretendida 2k/mês

    Obs:Eu só entraria na IF com uma margem de segurança de no mínimo 2.Ou seja eu pretendo ganhar o dobro do que considero o Básico.

    Depois eu ia estimar um cenário ruim duradouro digamos 5 anos.

    Então ia precisar ter de reserva por exemplo: 5 anos(60 meses)x 2k= 120k

    Essa "conta" de 120k eu vou considerar que rende inflação,já que vou precisar de liquidez e vou priorizar segurança à rentabilidade.

    Agora eu ia precisar de ativos que me rendam 2k
    a 0,4% a.m daria 500k

    Todos os aluguéis,proventos,cupons(considerando a inflação) eu ia colocar na conta de gasto.
    Então ia ficar assim

    Caixa 120k
    Ativos que geram renda 500k
    Renda média gerada 2k/mês(lembrando que foi calculado de maneiro conservadora)

    Ai eu teria que definir um plano para se sobrar dinheiro ou se faltar.

    Se meu caixa subir acima do que eu precisa para 8 anos posso gastar o excedente em o que eu quiser,viagens,carros e etc.Ou em investimentos para aumentar permanentemente minha regra

    Se meu caixa caísse para 3 anos gastaria 80%,caindo para 2 anos só a renda básica(lembrando que como eu estou usando como referencial a renda cheia esses 2 anos durariam 4).

    Mesmo encarando um bear market forte dificilmente você fica sem receber 1 cupom,aluguel ou provento,então os 5 anos iam durar provavelmente muito mais que isso mesmo com cálculos mal equivocados(mal feitos não,pois tem MUITO tempo para fazer).

    Outra coisa ia ser legal ter certa flexibilidade com os gastos maiores.Então tudo que for gasto totalmente fixo deve ser evitado.Como casa própria,preferiria aluguel.Casa de veraneio nem pensar,essas coisas você evita.

    O ideal era montar um estrutura com poucos gastos fixos,onde haja espaço para corte de gastos se necessário.

    Bem esse é um modelo que estou bolando para mim.Até agora não encontrei muita coisa sobre isso na internet ou em livros(provavelmente poucos leitores chegam lá).Não é um modelo fechado to tentando melhorar.E os valores que eu coloquei ali em cima foram só para exemplo.

    O que eu to tentando colocar no modelo é ele ser flexível(para poder adaptar na hora que A HORA chegar),ser seguro(para não ter que voltar a trabalhar por motivos financeiros) e ter espaço para corrigir erros cometidos.Tentando não ser um modelo muito caro ou seja precisar de muito mais dinheiro que o que é realmente necessário,adiando a hora esperado e me fazendo viver aquém da minhas necessidades.

    Desculpa pelos erros de português.

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  3. Apenas corrigindo, na verdade a retirada anual é de $25.000,00 (5%) e não $50.000,00... se fosse 50 mil o portfolio com crescimento sem volatilidade de 8% diminuiria ano a ano.

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  4. Inv. e Fin., essa estratégia que você falou é interessante, mas tudo vai depender da ordem das retiradas e de qtos % ao ano do portfolio vc pretende gastar.

    Capitalista, cuidado que apesar da volatilidade tomar dimensões importantíssimas nesses tipos de portfolios, o retorno também é importante e não deve ser desprezado, pois ele também protege contra o exaurimento do portfolio. Voce tem que ver o qto de rentabilidade está sacrificando para aumentar a estabilidade da renda que ele fornece.

    Pelos calculos que voce mostrou seria necessario um capital bem alto. Pela sua estrategia vc retiraria em condicoes normais 0,32% do seu patrimonio por mês, o que dá menos de 4% ao ano. Com essa porcentagem certamente a sua chance de sucesso é muito alta, independente da estratégia adotada. Só lembre-se que o inquilino pode deixar de pagar o aluguel, a empresa pode deixar de pagar dividendos (só ver a GE e BofA, que pagavam dividendos constantes há DÉCADAS e mudaram completamente em 2008) e a rentabilidade de uma NTNB pode tranquilamente chegar a Inf+4% BRUTOS daqui a muito tempo. Claro que esse seria um cenário catastrófico bem improvável, na verdade tudo vai depender de como estarão o mercado de imóveis, renda fixa e variável na época que formos puxar o gatilho...

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  5. O rebalanceamento, ao meu ver, só seria prejudicial (supondo os casos que você apresentou) nos portifólios de crescimento.

    Portanto, se o indivíduo já está perto de começar as suas retiradas ele deve adequar o seu portifólio para isso, diminuindo classes mais expostas ao risco, afinal ninguém quer ter um BEAR justamente neste momento.

    Para retiradas mensais sem IR um ótimo investimento são os FII (Fundos de Investimento Imobiliário), que nos fornecem um bom fluxo de caixa. Até escrevi uns artigos sobre ele no meu blog.

    Tomando um exemplo real: O EURO11 tem distribuído 1,36 em aluguéis sobre o preço atual de 165.

    Isso dá 0,82% ao mês, maior do que a poupança e o CDI. Ainda podemos contar com uma maior rentabilidade em caso de aumento no valor do imóvel ao qual temos cotas.

    Além destes fatores a liquidez (comparada à imóveis) é bem melhor. Todo dia você tem compradores e vendedores na bolsa, o que ajuda na hora de redefinir as % em cada investimento.

    Grande Abraço!

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  6. Henrique, por que você acha que o rebalanceamento só seria prejudicial em portfolios de crescimento e não nos de retirada? Prejudicial em que sentido?

    Abraços!

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  7. IF42

    O maior problema dessas estratégias de retiradas fixas é que você fica correndo 2 risco.

    O primeiro é a rentabilidade diferir negativamente do esperado.Se você considerar que é um desvio padrão e quando ver caramba.

    O outro ainda mais complicado é viver demais.Imagina você ficando velho o dinheiro acabando e você não morre.

    Uma estratégia de retirada tem que balancear isso.Essa é a vantagem dos fundos de pensão,muitos deles "trocam" seu patrimônio por uma renda mensal vitalícia.

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  8. IF,

    Perdão. Ao invés de prejudicial em portifólios de crescimento leia prejudicial em portifólios com retiradas, próximos da maturidade.

    Minha opnião é baseada no fato do rebalanceamento só demostrar sua eficácia em períodos mais longos (portifólios de crescimento), em detrimento dos mais curtos (portifólios com retiradas próximos de sua maturidade).

    Abraços!

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  9. Capitalista, na verdade na estratégia de retiradas fixas você já imbute esse risco fazendo uma retirada menor, no caso: 4% do portfolio inicial ao ano corrigido pela inflação. No caso de horizontes maiores (40-50-60 anos) o pessoal recomenda uns 3,5% a.a., mas 4% não se sai mal.

    Uma retirada dinâmica talvez seja preferível sim, tem estudos mostrando isso, você acaba conseguindo gastar mais do seu portfolio com a mesma segurança... o problema é que terá anos que você terá que gastar menos que 4% (óbvio). Vai depender das necessidades do investidor.

    Henrique, não concordo com você. Pra mim controlar risco com rebalanceamento é algo louvável tanto em portfolios de crescimento como principalmente em portfolios de retirada, desde que a pessoa saiba das consequencias. Rebalanceamento mantém o portfolio dentro do desvio-padrao estipulado, isso é fato. Ainda assim, o rebalanceamento pode na verdade aumentar o "shortfall risk" e ao mesmo tempo diminuir o desvio-padrão. É MUITO importante entender isso. Vai depender de como vc vê o risco.

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