quarta-feira, 13 de maio de 2009

A TSR (Taxa Segura de Retirada) - Parte Final

Bem, já vimos que nos EUA foram feitos diversos estudos e chegou-se à conclusão de que um valor seguro para a TSR seria 4% ao ano, ou pouco menos que 0,33% ao mês. De acordo com outro estudo, através de utilização de bonds, dentre outros métodos, o gasto anual poderia ser de ao menos 4,46% ao ano, ou pouco menos de 0,371% ao mês. A pergunta de literais 1 milhão de reais é: como aplicar esses estudos à realidade brasileira?

A fundamental diferença que existe é que o Brasil e os EUA possuem mercados bastante distintos. Enquanto no Brasil temos maior inflação e risco, por outro lado temos maior retorno. Essa máxima se aplica tanto à bolsa de valores (com seu desvio padrão de cerca de 30%) quanto aos títulos públicos (que teoricamente possui um risco de default maior que o americano).

A chave se encontra em maximizar o retorno e minimizar o risco. Enquanto o risco adicional na bolsa de valores é algo bem real (vide o desvio-padrão cavalar do Ibovespa), o risco dos títulos não o são. Dessa forma, apresenta-se uma enorme oportunidade, talvez a última para os brasileiros que querem se aposentar com segurança.

A idéia é investir em títulos públicos que possuam alto retorno, longuíssima maturação e protegidos contra a inflação. A resposta está nas NTNBs.

NTNBs são títulos que o governo brasileiro oferece que se comprometem a pagar um valor fixo mais a correção do IPCA, com prazos longos e pagamentos de bônus semestrais. Atualmente temos NTNBs com maturação para até 2024 e 2045, com rendimento bruto de 7,12%+IPCA. O rendimento líquido fica em cerca de 5,9%+IPCA ao ano, o que possibilitaria uma retirada mensal de cerca de 0,5% ao mês, sem considerar o montante principal.

Apenas a título ilustrativo, aqui vai a taxa paga por títulos públicos de alguns países:

  • Alemanha - 15 anos - 6,25%
  • Austrália - 15 anos - 5,75%
  • Japão - 30 anos - 2,3%
  • Inglaterra - 15 anos - 5%
  • EUA - 30 anos - 4,25%
  • EUA - 30 anos - 3,37%+inflação
Notem que, com exceção do último título americano, todos os títulos mencionados não possuem QUALQUER proteção contra a inflação. Ou seja, o título brasileiro além de pagar uma taxa altíssima ainda remunera adicionalmente o papel para que o mesmo não perca o valor real investido. Esse tipo de investimento com um retorno tão elevado é algo INEXISTENTE em países desenvolvidos.

Portanto, se eu tivesse HOJE os 1,5 milhão necessários para me aposentar (meu objetivo são 3 milhões de reais de 2025, que com inflação de 4,29% ao ano equivalem a 1,5 milhão de reais de 2009) investiria 100% em NTNBs com maturação a mais longa possível. Opa, mas peraí... como eu poderia retirar 0,5% ao mês e não apenas 0,33%, o valor necessário cai de 1,5 milhão para 1 milhão! Isso representa uma economia de R$500.000,00 reais de hoje ou R$1.000.000,00 de reais a menos em 2025! Agora entendam por que essa é REALMENTE uma pergunta de um milhão de reais!

Quais os riscos dessa estratégia? O maior é o chamado risco de maturação, que significa chegar lá em 2025 ou 2046, o título vencer e na renovação encontrar apenas taxas de 2%+inflação, p.ex. O seu portfolio que rendia R$15.000,00 + inflação vai passar a render R$5.000,00 + inflação. Claro que essa mudança não será busca, pois como a acumulação foi gradual, a renovação também o será. Uma forma de se proteger contra esse risco é ou diversificar parte do portfolio em ações para compensar a perda de rentabilidade - aumentando-se um pouco o risco - ou então não efetuar retiradas do principal durante o período que os títulos mantiverem-se pagando bem.

O segundo tipo de risco que essa estratégia possui é o risco soberano... ou seja, o governo diz "Screw you guys, I'm going home!", dá o calote e você fica a ver navios. Solução: diversificar em debêntures, CDBs, títulos hipotecários, enfim qualquer outro título de renda fixa que não dependa do governo para seu pagamento. O problema é que o risco inerente de um CDB ou debênture será sempre maior que o risco soberano em si, e a grande maioria deles não possui proteção contra inflação.

Sinceramente, acho os riscos de tal estratégia mínimos. O risco de maturação é plenamente coberto caso se mantenha a proteção do principal, e acho quase impossível o Brasil dar o calote em milhões de brasileiros que atualmente investem em tesouro direto.

Dito isso, por que eu hoje já não me entupo de NTNBs ao invés de me arriscar na bolsa? Pelo simples motivo de que um portfolio de crescimento do ativo é completamente diferente do portfolio de proteção do ativo. Quero aproveitar o longo período até a aposentadoria e obter retornos maiores na bolsa do que teria nos NTNBs... o único risco é, ao chegar em 2025, só encontrar títulos com baixa rentabilidade. Minha estratégia, no entanto, é em épocas de SELIC elevada (que certamente virão) eu "travar" parte do portfolio em tais títulos, aproveitamento uma alta momentânea num retorno seguro e permanente.

33 comentários:

  1. O risco é de uma queda violenta nas ações justo quando subirem as taxas (algo que ocorre com frequencia).

    ResponderExcluir
  2. Anônimo, essa correlação inversa de fato existe, mas a meu ver não interfere na estratégia, primeiro devido ao rebalanceamento que farei de tempos em tempos (comprando menos ações na alta e comprando bastante na baixa), segundo que posso manipular até certo ponto isso direcionando os aportes 100% para o TD. A idéia é fazer um mínimo de "market timing" (no mercado de títulos, não da bolsa!!!), pois todos sabemos quando estamos em períodos de inflação alta ou baixa, sendo a idéia comprar os títulos no período de alta e "travar" por 20-30 anos essa taxa. Mas sendo honesto, estamos falando de detalhes aqui... os aspectos realmente fundamentais foram os que ressaltei no tópico sobre O PLANO.

    ResponderExcluir
  3. Excelente planejamento!

    Umas perguntas:

    O que acha do Ouro como hedge para inflação?

    A volatilidade de seu preço é alta para o seu modelo?

    O Ouro não seria uma boa proteção contra uma política monetária extremamente expansiva, que poderia desvalorizar a moeda?

    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. HC, eu conheço pouco dessa commodity, mas a prazo muito longo ela se mantém estritamente como um hedge de inflação, cumprindo esse papel fielmente. A curto prazo o ouro já possui uma volatilidade indesejável.

    Sinceramente nos tempos de hoje em que temos a NTN-B não vejo motivo para se investir em ouro, fora motivos puramente especulatórios, que acredito não ser o seu caso.

    ResponderExcluir
  5. IF,

    Vejo o Ouro como proteção do patrimônio no longo prazo, principalmente contra as emissões de moeda sem lastro (fiat money) feitas hoje em dia.

    Quanto as NTN-Bs acrescentaria outro risco além do risco de maturidade: o risco de "decisão do TN". Sei que pode parecer fora da realidade mas é sempre bom lembrar que o TN já tirou de negociação as NTN-Cs, que eram indexadas ao IGPM.

    No mais, é uma excelente idéia "travar" uma parcela do patrimônio em alguns rallys de juros.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  6. Mas Henrique, a questão é que os títulos brasileiros rotineiramente rendem acima da inflação. A relação risco/retorno deles, a meu ver, é extremamente superior ao ouro, especialmente no longo prazo, em que as commodities tendem a sair perdendo. O risco de maturação, por maior que seja, é irrelevante devido à rentabilidade desses títulos. Ainda que o governo retire de circulação alguns títulos acho difícil ele retirar os indexados a índices de inflação, mas concordo que tudo pode acontecer. O verdadeiro problema, na verdade, é o risco soberano...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Governo brasileiro já sequestrou poupança, já deu calote, trocou várias vezes de moeda e inflaciona desde sempre. Ouro continua foda há mais de 2 mil anos! A parte ruim e pela qual eu nunca investiria um grande % da carteira em ouro, nem indicaria a ninguém, é pelo fato do metal ser um investimento estéril (não render juros). Contudo manter uma parcela razoável em ouro físico (digamos os clássicos 10% da carteira) é uma proteção de longuíssimo prazo excelente.
      Podendo, inclusive, ser comprado ao longo dos anos durante a fase de acumulação e na aposentadoria ser convertido em imóveis ou outros investimentos pagadores de juros/dividendos.

      Excluir
    2. É só ver esse gráfico do livro investindo em ações no longo prazo do jeremy siegel pra ver que ouro é uma furada pro longo prazo:

      https://uploaddeimagens.com.br/images/003/631/760/full/A%C3%A7%C3%B5es_-_gr%C3%A1fico_ganhos.png?1642273111

      Excluir
  7. IF,

    Caso a pessoa deseje se proteger contar inflação não tenho dúvida que as NTN-Bs são a melhor opção, avaliando risco x retorno.

    Repetindo o que você disse: O verdadeiro problema é o risco soberano.

    Por isso acredito que uma boa proteção contra os sinistros mais sinistros é alocar uma pequena parcela do patrimônio em Ouro, pelo menos nas minhas convicções.

    Grande Abraço!

    ResponderExcluir
  8. Henrique, acredito que, se o risco soberano deixar de ser risco e virar realidade, não serão os 5 ou 10% do seu portfolio em ouro que irão te salvar. O retorno dos títulos a longo prazo te darão algumas vezes o que você teria em ouro, tornando então o risco soberano, após diversificação, efetivamente inexistente. Espero que vc tenha me entendido!

    ResponderExcluir
  9. IF,

    Compreendi sim sua visão.

    Obrigado por expor sua opnião em relação ao tema.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  10. E se voce(viver de renda) chegar aos 3.000.000 e
    capitalizar 100% do portifolio em Imoveis?

    Acredito que isso poderia ser um "plano B", acho que com a volorização dos imoveis(ativos reais), logo, o aumento dos alugueis ao longo dos anos. Ficaria acima da inflação e te renderia aproximadamente os 0,5 a.m.

    Nao sei, eu sou novato, mais é uma ideia.

    ResponderExcluir
  11. VR

    Em sua opinião qual título do governo vale mais a pena, os de taxas pré fixadas ou os indexados ao IPCA? Pelas minhas contas, considerando a previsão de 4,5% de inflação para os próximos anos os pré fixados ainda valem mais. O que você acha?

    Abraços

    ResponderExcluir
  12. Olá,

    Fiz o seu cálculo baseado na fórmula do post passado e com um titulo que rende 7,12% considerando a inflação de 4,29% e ainda considerando a taxa de custódia anual de 0,4% o rendimento real deu 5,03% o que daria 0,419 ao mês, considerando que o agente de custódia não cobra taxa. Ou seja os teus 0,5% am são 0,4% am o que para aposentadoria faz uma enorme diferença (20%). Estou correto?

    ResponderExcluir
  13. Investir 100% em TD implica em 100% de risco cambial.
    De nada adiantaria render IPCA + 6% se o real não valesse mais nada mundo afora daqui a 17 anos

    ResponderExcluir
  14. Na taxa de retirada do NTNB você esqueceu de colocar o IR descontado em TODA a rentabilidade!

    ResponderExcluir
  15. Olá VR,
    Acabei de postar minha "revolta" contra a TSR...rs

    http://investidordefensivo.blogspot.com.br/2012/04/nao-acredite-na-taxa-de-retirada-de-4.html

    Abs!

    ResponderExcluir
  16. Olá... e nos cenário de hj, o que fazer?

    Bolsa de dividendos, NTN-B ou NTN-B Principal ou RF?

    Abs

    ResponderExcluir
  17. Olá.

    E no cenário de hj, como agir?

    Supondo que você tenha apenas R$ 10.000,00(valor simbolico) o que faria?

    1) Investiria em carteira de dividendos
    2) imóveis
    3) NTN-B
    4) NTN-B PRINCIPAL
    5) MOEDAS (Dólar)
    6) RF

    Pensando no mesmo prazo de 2025, conforme prazo da NTN-B.

    Abs e parabens pelos estudos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa pergunta é irrelevante, mesma coisa de perguntar qual a melhor cor de camisa pra se ir pra uma festa, falta informação. Depende da sua necessidade, capacidade e habilidade e correr riscos, retirada necessária, etc.

      Excluir
  18. O estudo foi em 2009. Passados 7 anos e agora temos ntn-b 2050 pagando cupom de mais de 6,0%.
    Permanece com a mesma estrategia?
    O que mudou?
    abs.
    Roca.

    ResponderExcluir
  19. Complicou demais no artigo...afinal qual a TSR% a utilizar no Brasil? Só o numero pf:

    ResponderExcluir
  20. Tudo bem! Ótimo artigo!
    Eu sou servidor público é estava procurando um investimento para não ficar totalmente dependente do governo (renda + aposentadoria...evitar a situação do servidor na Grécia). Ou contrario dos meus colegas duvido muito que vou receber a aposentadoria "integral." Gostaria de fazer investimento passivo na S&P 500 ou algo do tipo, mas entendo que há varios problemas com esse investimento no Brasil. Você tem algum investimento para reduzir o risco Brasil? Obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anon, qualquer compra de ativo lá fora, especialmente em economias desenvolvidas, reduz o risco Brasil.

      Excluir
  21. Lembra do tempo que vc disse isso?
    "meu objetivo são 3 milhões de reais de 2025". hoje com 5 milhões já 8 anos antes...
    Ainda achas uma boa investir na NTN-B 2050 com os juros atuais?

    ResponderExcluir
  22. Brilhante post VR. Chamamos isso de TSR definitiva. Leia nosso post por favor e comente..será um prazer compartilhar idéias.
    http://www.aposenteaos40.org/2017/11/a-tsr-definitiva.html

    ResponderExcluir
  23. Que pena descobrir somente hoje esse tipo de artigo. abraços

    ResponderExcluir
  24. AH QUE SAUDADES DE 2009. TREASURY PAGANDO 4% NOS EUA? RAPAH!!

    ResponderExcluir
  25. Até eu assustei como foi profético esse texto que escrevi há 10 anos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pensei a mesma coisa, quando relia ele hoje (05/07/2019)

      30% Tesouro Selic
      30% Dólar
      20% ações
      20% FII

      Qualquer descolamento rebalanceio e segue o baile, com uma patrimonio de 10 milhões não faz diferença, qualquer 10% a.a já capitaliza muito.

      Excluir