quinta-feira, 9 de julho de 2009

Crítica ao artigo "Onde 'Stocks for the Long Run' errou"

Após postar minha crítica sobre o livro "Stocks for the Long Run" ontem, o usuário Xico em um comentário mostrou um texto interessante e bem crítico à idéia central do livro: Que as ações são a melhor opção para o longo prazo. Vamos direto ao ponto e ver os argumentos do autor do artigo (Patrick McDevitt):

First, they believe that annualized returns provide a false sense of security, because only total returns matter. For instance, in their best 40-year stretch, stocks provided an annual return of 12.5 percent; in the worst period, the annual return was 5 percent. But compounding those returns presents an entirely different picture of that relatively narrow spread: earning 5 percent annually, $1 grows to $7.50 over 40 years; at 12.5 percent, it grows to $112, a total return gap that much better illustrates stock market volatility.
Esse argumento, a meu ver, é irrelevante. De fato, a volatilidade do retorno total após longos períodos é enorme. Digamos que você tenha investido R$10.000,00... em 40 anos você pode ter entre R$75.000,00 e R$1.120.000,00, caso utilizado os dados históricos do mercado americano. No entanto, isso pouco importa se um objetivo for cumprido: retorno acima da renda fixa. Se, por exemplo, a renda fixa tiver conseguido uma rentabilidade de 500% em 30 anos, pouco importa se a bolsa ficar entre 501% e 50.000%: você terá escolhido o investimento com retorno superior. E, como o próprio autor falou, o retorno total é o que importa!

The second criticism involves the use of probabilities. Since 1872, stocks have outperformed bonds in over 90 percent of all 20-year periods. But in constructing a portfolio, investors must consider not just the likelihood of outperformance, but also the amount of the shortfall they might face. If stock returns lag by just 0.05 percent annually, as happened in one period, the penalty is rather small. But falling short by 2 percent annually, as in the most recent period, produces a total return that is less than half that provided by bonds.

Esse é, de longe, o argumento mais interessante, que o autor não percebeu que pode ser utilizado contra ele. A premissa do autor é verdadeira: de nada adianta a probabilidade de sucesso ser alta se, em caso de fracasso, o mesmo for muito intenso. No entanto, na grande maioria dos períodos estudados a diferença de retorno entre renda fixa (bonds) e a bolsa é enorme! A favor da bolsa! Vamos ver alguns períodos e o retorno real da bolsa e da renda fixa no mercado americano:

1946-1965: 10% -1,2%
1966-1981: -0,4% -4,2%
1981-1999: 13,6% 8.4%

Vejam a diferença gigantesca! Não só a renda fixa geralmente perde na maioria das vezes (90% em 20 anos e 99,4% em 30 anos), ela perde de forma retumbante, com diferenças em termos "totais reais" de algumas magnitudes!

Vamos ao terceiro argumento:

Which leads to the critics’ third complaint: A long holding period actually increases the odds of encountering a severe bear market. And while you might have believed you were equipped to endure a 50 percent market decline, watching five years worth of earnings and contributions vanish can make you reevaluate just how brave you really are. Investors who find, too late, that they assumed more risk than they bargained for are often the ones who flee the market entirely, further endangering their long-term wealth.
Esse argumento nada tem a ver com a discussão. O fato da probabilidade ser maior de encontrarmos um mercado bear intenso (o que é óbvio) não muda em nada a realidade: mesmo com encontros numerosos com o urso, o touro sai na frente, 90% das vezes em 20 anos e 99% das vezes em 30 anos! Muitas vezes com diferenças astronômicas! O fato das pessoas muitas vezes não terem estômago para ver 50% do seu dinheiro se esvair não altera em nada o retorno de quem decidiu ficar.

Para nós, brasileiros, ainda existem dois agravantes: a questão tributária e a questão de custos. A renda fixa é tributada no mínimo a 15% do ganho de capital obtido. Com a bolsa, há a isenção para vendas de até 20k no mês. Além disso, não é difícil o indíviduo investidor em ações ter custos na ordem de 0,1-0,05% a.a, ao passo que o investidor em renda fixa não consegue ter custos menores do que 0,3% a.a, além do efeito come-cotas em fundos e em títulos com pagamento de prêmios semestrais.

E como tem se saído a bolsa brasileira quando comparada ao CDI no longo prazo? Isso é assunto pro próximo post...

3 comentários:

  1. IF,
    Provavelmente faremos posts iguais, estou montando um também sobre a rentabilidade da bolsa vs CDI.

    Abraços.

    Luis Otávio.

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  2. IF,

    Entendi que no seu método você pretende diminuir a exposição em RV conforme a Independência Financeira ficar mais próxima.

    Faltando apenas 2 anos para sua IF, qual a porcentagem que você espera manter entre RV e RF?

    Caso a Bolsa entre em um Bear Market, causando perdas de 50%, você reduziria sua posição nela, já que está mais perto do tempo planejado para sua IF?

    Ótima crítica do livro e ótima crítica da crítica!! hehe

    Abraços!

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  3. Henrique, ainda estou pesquisando sobre esse assunto, mas pelos estudos preliminares deve ficar algo entre 15-20% RF/ 85-80% RV. Esse processo de migração deve iniciar 5-7 anos antes da independência financeira, tanto por questões tributárias como de risco. Sendo sincero, estou percebendo que o portfolio para receita/crescimento é um mundo completamente diferente de um portfolio exclusivo para crescimento.

    Num Bear Market eu vou ficar é tentado a investir ainda mais em RV hehe! Digo isso pois ao que tudo indica as bolsas possuem a característica de "reverter para o meio" no que se refere a retorno, com exceção da Nikkei em 1989 até hoje. Apesar disso, um bear de 50% logo antes de me aposentar seria catastrófico... pior que isso só um bear logo após me aposentar (imagina o trauma de quem se aposentou em 2008)!

    Abração!

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