Gostaria de agradecer ao meu companheiro de blog Viver de Renda pela oportunidade cedida para escrever neste espaço em que a qualidade preza deste o início, buscando trazer informações práticas e importantes para os leitores, de maneira diferenciada do padrão encontrado pelas comunidades financeiras.
Nesta matéria, tratarei de um tema muito importante para quem busca alcançar a independência financeira: Qual o retorno esperado (futuro) da Bolsa que devo utilizar? Estaremos analisando o retorno real histórico do Ibovespa desde 1994, além de fatores como regressão à média e a comparação dos retornos mundiais para poder estimar de maneira mais realista o retorno futuro da Bolsa brasileira para o longo prazo.
Os erros mais comuns de iniciantes. Num país em que todo mundo quer ficar rico rapidamente, muitas pessoas cometem erros de inciantes na hora de estimar a rentabilidade de seus investimentos no longo prazo. Neste artigo, considerarei apenas o mercado de ações como exemplo, já que é onde mais encontrarmos metas irreais de rentabilidade.
Pequeno teste. Se alguém lhe disser que tem como meta ganhar 20% a.a. na Bolsa você concordaria com este argumento? No mínimo, seria prudente perguntar se esta rentabilidade é líquida e descontada da inflação, afinal, estamos fazendo um planejamento de longo prazo. Portanto, incluir custos e a inflação me parece uma atitude bem prudente.
E agora, 20% a.a. líquidos e descontados da inflação lhe parecem uma taxa possível de ser alcançada no longo prazo? Provavelmente, você deve ter respondido: Não! (Eu espero!). De qualquer modo, vamos analisar ao longo deste artigo quais foram os retornos históricos da Bolsa brasileira (em termos nominais e reais) e o que podemos esperar deste retorno olhando para o futuro.
Retornos Nominais e Reais do Ibovespa desde o período pós-inflacionário (Julho de 1994 até setembro de 2010):
Embora ambos tenham começado do mesmo ponto de partirda, nos 4.000 pontos em julho de 1994, no fechamento de setembro/2010, o Ibovespa nominal terimou em 69.430 pontos e o Ibovespa real em 18.489 pontos.
1ª lição. Sempre considere a inflação quando fizer um planejamento de longo prazo. A rentabilidade nominal anual do Ibovespa neste período foi de 19,93% (próximo dos 20% a.a. que nos referimos na pergunta no início do artigo). Entretanto, devido à uma inflação de 8,29%, a rentabilidade real do Ibovespa foi de 10,75%. Lembrem-se que o correto não é subtrair a inflação, mas sim descontá-la. Veja mais detalhes aqui e aqui.
Retorno real do Ibovespa nos últimos 12 meses:
Considerando a análise do retorno da Bolsa nos últimos 12 meses, percebemos que este tende a variar entre uma faixa definida, entre -50% e +100%. Importante observar que quando o índice se encontra perto destas faixas ele tende a reverter rapidamente. Esse princípio é conhecido como regressão à média. Nada impede que ele saia desta faixa, mas a probabilidade de ocorrência é pequena e bem passível de ser ajustada no longo prazo.
Retorno real do Ibovespa nos últimos 5 anos:
Retorno real do Ibovespa nos últimos 10 anos:
Comparação da Rentabilidade da Bolsa Brasileira x Bolsas no Mundo:
Além de analisar a rentabilidade histórica do Ibovespa dentro do cenário nacional, por que não compará-la com diversas bolsas mundiais? Afinal, o dinheiro nunca dorme e está sempre em busca de melhores oportunidades.
Retorno real de 17 Bolsas de Valores em 100 anos. Existe uma ótima análise feita anualmente pelo instituto de pesquisa do Credit Suisse com o retorno real de 17 bolsas no mundo todo, cujo tema já foi abordado duas vezes aqui no Viver de Renda. Confira o material aqui [1900 até 2008] e aqui [1900 até 2009]. As análises concluem que o retorno ponderado das 17 bolsas no mundo todo era de 5,2% a.a. no ano de 2008 e passou para 5,4% a.a. em 2009.
E o nosso Ibovespa, com retornos reais anuais em torno de 10%, onde se encaixa nisso?
Existe um gráfico interessante feito pelo New York Times e já disponibilizado pelo Viver de Renda aqui, que mostra uma comparação entre os retornos das principais bolsas dos países desenvolvidos e emergentes:
Brazil-zil-zil! A bolsa de valores brasileira obteve de forma isolada o maior retorno entre as 23 bolsas analisadas, com retornos de 20%, bem próximo dos 19,93% que calculamos como retorno histórico desde 1994.
Uma outra visão sobre o mesmo tema pode ser encontrada no site da iShares nos Estados Unidos. Classificando a tabela dos diversos (e são vários mesmo!) ETFs pelo retorno anual nos útlimos 10 anos, adivinhe quem está na liderança?
Projetando uma rentabilidade real para o Ibovespa no longo prazo de maneira realista:
Dado que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, olhar somente para o passado não é suficiente para projetarmos o futuro. Portanto, temos de aceitar que existe uma imprevisibilidade dos retornos, embora eles tendem a convergir para uma média.
Uma boa solução para fazer esta estimativa é simplesmente sermos conservadores em nossa análise. Dado que o Brasil teve uma das maiores taxas de crescimento nos últimos 10 anos, espera-se que nos próximos 10 anos esse retorno será menor do que o anterior.
Concluindo
Portanto, sabendo que a rentabilidade real do Ibovespa nos últimos 10 anos foi de 10,75%, poderíamos estimar a rentabilidade futura da Bolsa em torno de 8%, atribuindo uma queda de quase 3% devido a uma situação que parece insustentável. Este é exatamente o número que o Viver de Renda utilizou para fazer sua projeção de rentabilidade no plano de Independência Financeira.
Esperando que o retorno da bolsa brasileira retorne para patamares mais adequados e, levando em consideração que a média histórica das 17 bolsas analisadas em um perído superior a 100 anos é de 5,4% a.a, poderíamos estimar a rentabilidade real da Bolsa brasileira de maneira mais conservadora, entre 6% e 8% para o longo prazo.
Informações Adicionais:
Sobre o autor: Henrique Carvalho
Autor do blog HC Investimentos. É Sócio do Clube de Vienna - Análise Financeira Independente - e trabalha na consultoria Fundo Imobiliário. No Twitter:@hcinvestimentos
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Lendo o artigo do Henrique duas coisas chamaram a minha atenção:
1 - A diversificação pelo tempo funciona. Apesar dos argumentos de Paul Samuelson, Zvi Bodie e Mark Kritzman contra o mesmo, a verdade é que a lei dos grandes números está a favor do investimento com maior expectativa de retorno, e não há "put options", utilidade do dinheiro e mercados "bears" intra-tempo que digam o contrário. Observe que, apesar do desvio-padrão total aumentar pela raiz quadrada do tempo, o desvio-padrão de longos períodos anualizado DIMINUI a medida que o tempo passa. O gráfico do retorno de 10 anos é extremamente elucidativo nesse sentido, com retorno anual real não menor do que 5,08% e com uma volatilidade bastante reduzida quando comparada com os gráficos de 1 e 5 anos.
Ps.: Se você não entendeu nada do parágrafo acima, procure ler sobre "diversificação pelo tempo" ou aguarde meu artigo sobre o tema.
2 - Pequenas diferenças de retorno durante muito tempo fazem uma grande diferença. Não sei se vocês perceberam, mas vejam como um retorno de aproximadamente +50% em 2009 causou um aumento do retorno anual na série 1900-2009 de apenas 0,2%a.a. 0,2% durante um ano não é nada, durante 100 anos de deixam 50% mais rico ao final do período. É possível deduzir dessa verdade matemática a importância do controle dos custos de um investimento, em que pagar 0,1% ao invés de 0,7% de taxa de administração anual causam grandes diferenças lá na frente.
Outro exemplo claro do exemplo acima foi a minha diminuição de expectativa de retorno nominal do portfolio de 1,2% para 1% a.m. Esses 0,2%a.m. modificaram meu aporte necessário mensal de R$2.300,00 para ~R$4.300,00.
Portanto, fiquem de olho nos custos e foquem no longo-prazo!
Estava projetando 10% ao ano...
ResponderExcluirTesouro direto dá uns 6%...
Vou passar para 8%. Menos que isso, dou um tiro na cabeça...rs Já vai "atrasar" meu objetivo com esse percentual. O jeito é ganhar mais e guardar mais dinheiro. osso.
Ótimo artigo, parabéns aos dois!
ResponderExcluirEu nunca projetei minha rentabilidade futura por causa da falta de conhecimento, preciso estudar mais sobre o assunto.
Abraços.
Muito bom esse artigo!
ResponderExcluirFazer 20% ao ano é uma ilusão sem precedentes, quem conseguiu esse feito se tornou um dos homens mais ricos do mundo.
Lembrando que as projeções não são garantia de sucesso mesmo no longo prazo, temos que estar preparados para o que der e vier (principalmente em casos de bear market).
Abcs,
Excelente artigo, parabéns Henrique!
ResponderExcluirO melhor continua sendo seguir o mantra: seja conservador ao projetar expectativas de rentabilidade. Isso fará com que sua carteira tenha uma evolução um pouco menor, mas será mais fácil atingir os objetivos.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Excelente artigo!!
ResponderExcluirTesouro direto quase la.. temos titulos pagam 6% + IPCA...
Grande VR!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo espaço de publicação.
Bem interessante sua observação ao final do artigo, da qual concordo plenamente.
Inclusive, no livro mais inteligente que já li sobre alocação de ativos [The Intelligent Portfolio], o autor mostra de forma brilhante todos os custos vísiveis e "invisíveis" existentes na montgem e manutenção de um portfólio e faz simulações [de monte carlo] com custos diferentes em uma mesma carteira.
Link do Livro [não ganho nada divulgando]:
http://www.amazon.com/Intelligent-Portfolio-Practical-Investing-Financial/dp/0470228040
É impressionante o resultado. Como 0,5% a menos de custos trazem resultados bem mais significativos no longo prazo.
Taí uma boa idéia de artigo. Mostrar a influência dos custos no resultado final de um planejamento de longo prazo.
Grande Abraço!
HC e VR, excelente análise, parabéns aos dois.
ResponderExcluirMinhas projeções são 10%, as otimistas, e 7% as pessimistas.
Abraço!
VR, vc está equivocado, o Gustav Cerbasi nunca falou que previdência privada é um bom investimento. E muito estranho vc falar isso, não foi vc quem disse em outro comentário que o livro dele era um dos melhores livros de finanças do brasil?? Cara vc se contradiz muito, voce custuma esculacha a estratégia dos outros, e nao consegue ver que a sua tá longe de ser perfeita. Acho o seu blog muito bom, mas humildade é bom de vez em quando colega. Grandes abracos.
ResponderExcluirNão assassinar a gramática também é bom de vez em quando, colega.
ResponderExcluirÓtimo post. Parabéns aos dois. Sempre aprendendo aqui, é incrível!
ResponderExcluirAbraços,
Léo.
@Anônimo.
Referente ao grande Gustavo Cerbasi, a algum tempo atrás o VR fez um artigo abordando o livro dele.
''não foi vc quem disse em outro comentário que o livro dele era um dos melhores livros de finanças do brasil??''
Creio que vc está bem equivocado. Recomendo a leitura dos dois artigos, parte I e II.
http://viverderenda.blogspot.com/2009/12/como-perder-dinheiro-com-planos-pgbl-e_17.html
O VR disse que o livro do Gustavo Cerbasi é um dos melhores do Brasil ? Hahahah, acho que tem algum mal entendido ai.
ResponderExcluirNa verdade, o mais próximo que eu vi em um tópico citado no VR, foi que o livro do Cerbasi poderia ser usado para incentivar a companheira a se interessar por algum tipo de investimento e um pouco de educação financeira.
Abraço e Grande artigo HC.
Com uma perspectiva de 6% a 8% real na Bolsa a longo prazo, seria mais interessante aproveitar o rendimento do Tesouro Direto com títulos de rendimento 6% real! Ou não ?
ResponderExcluirEsses 6% reais não são tão reais assim. Como IR incide no montante total, existe a possibilidade de 6% + IPCA dar rentabilidade real negativa. Suponha IPCA de 200% em 2011 e veja quanto dará a rentabilidade real.
ResponderExcluirAnônimo: Exato. No entanto, com 200% de inflação eu gostaria de estar investido em NTN-Bs do que em qualquer outro investimento, mesmo com rentabilidade negativa.
ResponderExcluirAlguém na internet divulga o ibovespa real (ajustado pela inflação) com regularidade?
ResponderExcluirOla Henrique e VR,
ResponderExcluirAo reler este artigo, lembrei-me do poster eletrônico da corretora enfoque com a variação do ibovespa em dolar desde 1964. (http://www.enfoque.com.br/poster/ibovespa/view_ibovespa_enfoque.aspx)
Tive uma ideia simples que provavelmente deve estar errada, mas que me parece lógica:
Para calcular o retorno médio do ibovespa desde seu início não bastaria calcular qual o retorno anual do canal de alta deste gráfico?
Fiz exatamente isso e considerei que no início de 1967 o suporte do canal parece cruzar os 60 pontos. Já no início de 2012, está linha está sobre os 6.000 pontos.
Se não errei nas minhas contas de padaria, ao longo destes 45 anos, o retorno médio foi de 10,75% a.a.
Abraço
Ah sim, uma coisa que esqueci de mencionar é que este retorno seria o nominal em dolar.
ExcluirPara chegar ao retorno real, teria que ser descontada a inflação desta moeda.
O artigo ignora 2 coisas:
ResponderExcluir1) O Ibovespa serve para nada a não ser que você compre ETF. O que vai definir o sucesso da rentabilidade no longo prazo é a escolha de boas empresas;
2) A reaplicação de dividendos no momento da formação do patrimônio em RV.
Ola VR
ResponderExcluirEstamos em 2016, só agora conheci seu blog e ele tem me ajudado muito.
Muito obrigado.
Sobre os retornos reais futuros estimados no artigo, de 6 a 8% a.a, e os retornos reais considerados na análise sobre as 17 bolsas, foi descontada somente a inflacao ou inflação + ir?
Roberto, somente inflação!
ExcluirUma pena ver esse artigo hoje. Infelizmente tivemos uma década economicamente perdida no país, e tínhamos uma expectativa muito boa!
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